Como realizar a Procissão das Oferendas da Celebração Eucarísica de modo Mistagógico
Publicado em: 26/07/2019


Olá amigos e amigas!

Estamos mais uma vez aqui para refletirmos sobre a nossa Sagrada Liturgia.

Depois de refletirmos sobre o que a Igreja tem a dizer sobre esta procissão ritual que acontece na nossa Celebração Litúrgica, vamos agora refletir a maneira de realizá-la, de modo mistagógico.

Terminada a Liturgia da Palavra a atenção de todos se volta para a segunda mesa que é o altar. É um dos momentos mais criativos, alegres e descontraídos.

A Liturgia Eucarística pede uma “mistagogia”, isto é, uma introdução ao mistério. Os ritos que constituem a parte eucarística pretendem aprofundar essa inserção no mistério que se iniciou já nos ritos introdutórios.

 

UM POUCO DA HISTÓRIA

Conhecer a história do rito é muito importante, pois assim poderemos entender melhor e realizá-lo de maneira mais mistagógica.

A história deste rito vai da simplicidade até o desenvolvimento solene.

No início a Eucaristia era realizada numa refeição. O pão e o vinho já estavam ao alcance do presidente, de modo que não necessitava de uma procissão.

Mais tarde foi desvinculada a Eucaristia do Banquete fraterno. São Justino, no século II, nos oferece a primeira descrição completa da celebração Eucarística e diz a este respeito, no seu livro Apologia (n.67): “Depois de terminada as nossas preces, oferece-se o pão, vinho e água, e o presidente, conforme suas forças, faz igualmente subir a Deus suas preces e ações de graças e todo o povo exclama, dizendo Amém”.

O rito foi reduzido ao essencial: apresentação do pão e do vinho e Oração Eucarística. O rito se reduz a sua função, ou utilidade prática sem cerimônias especiais para realizá-lo, não lhe atribui nenhum sentido simbólico. É apenas um preparativo necessário, não se dá muito realce.

Mais tarde os cristãos trazem de casa os dons para serem consagrados. Quem não participa da comunhão (por um impedimento ou porque ainda não podem (catecúmenos)), não traz nada.

Santo Hipólito adverte os catecúmenos (que se preparam para o batismo e ainda não comungam) que não levem nada consigo quando vão à Eucaristia.

Levar estas oferendas ao altar, que se realizou de diversos modos, segundo os lugares e épocas, teve sua realização litúrgica mais brilhante e de maior impacto com as procissões das oferendas.

Finalizada a Liturgia da Palavra os fiéis iam em procissão para o altar levando os seus dons: os ministros os recolhiam perto do altar e depositavam sobre o mesmo pão e o vinho que iriam necessitar para a celebração, segundo o número de comungantes. O que sobrava era colocado num lugar oportuno, para o sustento dos necessitados, dos ministros do altar e para as necessidades do culto (incenso, velas...)

Durante esta procissão das oferendas se cantava um salmo, como nos fala santo Agostinho em seu livro dos Salmos, quando comentava o salmo 129.

Com o tempo esta procissão desapareceu e também o salmo que a acompanhava. Foram várias circunstâncias que influenciaram neste desaparecimento:

  • diminuição dos comungantes;
  • tendência de impor a obrigação da comunhão, pelo menos uma vez ao ano;
  • obrigatoriedade do pão ázimo, no lugar do pão comum, para a celebração da eucaristia.

Com isso desapareceram as procissões, e as orações preparatórias também.

Na Idade Média se multiplicaram as orações, sem medida.

Com o movimento litúrgico (1950), o intento da renovação litúrgica e o esforço para dar mais participação aos fiéis na celebração litúrgica, levaram a um redescobrimento e potencialização do “ofertório” a uma exagerada insistência e mesmo como momento propício para expressar a ativa participação dos fiéis. Não aparece como momento de preparação para as oferendas, mas como sacrifício dos fiéis com o sacrifício de Cristo (que se dá na Oração Eucarística).

Levavam para o altar coisas inimagináveis (ferramentas, livros, papéis...). Os cantos falavam no “oferecemos ao Senhor” e o pão era chamado de “hóstia” (vítima).

O novo Missal Romano (Paulo VI – 1973) tentou tirar as ambiguidades e confusões neste primeiro momento da liturgia, suprimindo a quase totalidade das orações privadas do sacerdote, introduzidas na Idade Média e mudando a designação de “ofertório”, para “preparação dos dons”, pois o verdadeiro ofertório se dá na Oração Eucarística (CNBB - Doc. 43, 249).

Será que não caímos no risco de reduzir a “preparação das oferendas”, como no tempo de São Justino, simplesmente a uma função puramente utilitária?

Não, se a fizermos de um modo mistagógico.

Até mais...

 

Pe. Ocimar Francatto