Pe. Ocimar faz uma reflexão sobre a Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo
Publicado em: 15/06/2017


Olá amigos e amigas!

Espero que todos estejam bem, no Senhor!

Gostaria de refletir com vocês sobre esta grande SOLENIDADE DE CORPUS CHRISTI (CORPO E SANGUE DE CRISTO), celebrada na quinta-feira, 15 de junho.

A origem desta festa que se celebra na quinta-feira depois da Festa da Santíssima Trindade é produto da devoção eucarística medieval ocidental, surgiu para afirmar a presença real de Cristo na Eucaristia contra os erros de Berengário de Tours. Deve ser vista com uma ligação à devoção do Santíssimo Sacramento que se desabrochou poderosamente ao longo do século XII e na qual se realçava de maneira particular a presença real do “Cristo todo” no pão consagrado. Entre outras coisas estava o costume de levantar a hóstia depois da consagração, atestado pela primeira vez, no ano de 1200.

Em meio a esta situação, a visão da religiosa agostiniana Juliana de Liège, no ano de 1209 e repetida posteriormente, deu grande estímulo à introdução de uma festa especial do Sacramento da Eucaristia. Juliana teria tido a visão do disco lunar dentro do qual havia uma parte negra. Isto foi interpretado como sendo a falta de uma festa eucarística no ciclo anual das festas anuais. Por solicitação sua e de seus conselheiros espirituais, bispo Roberto de Liège, introduziu esta festa, pela primeira vez, em sua Diocese no ano de 1246. Em 1264, o papa Urbano IV, prescreveu-a para toda a Igreja. Pediu a Santo Tomás de Aquino que pudesse compor os textos da Missa e do Breviário.

Com a morte de Urbano IV no ano de 1264, foi desfavorável à propagação da festa. Só o papa Clemente V é que voltou a insistir em sua introdução durante o Concílio de Viena (1311-1312), introdução esta que se concretizou, logo em seguida, sob o papa João XXII, com a publicação da bula “Transiturus”.

As antigas traduções vernáculas do Missal romano traziam o título de “Festa do Santíssimo Corpo de Jesus”, que correspondia ao latino de “Festum Ss. Corporis Christi”. No interesse de uma visão global do Santíssimo Sacramento, o novo Missal ampliou este título para “Solenidade do Santíssimo Sacramento do Corpo e Sangue de Cristo”. Esta nova designação mostra-nos claramente que esta festa inclui também o mistério do “Preciosíssimo Sangue” para cuja devoção Pio IX contribuiu, introduzindo a festa do “Preciosíssimo Sangue”, em 1849, depois de seu feliz retorno do exílio, fixando-a no dia 1º de junho.

Há quem diga que na realidade a comemoração do Sacramento da Eucaristia se realiza propriamente na Quinta-feira Santa, o dia de sua instituição, e que a festa do Corpo de Deus é praticamente uma reduplicação da anterior. Entretanto, convém não esquecer que é impossível dar expansão à alegria festiva na tarde da Quinta-feira Santa, que, por ser o início do Tríduo Pascal, já pertence à Sexta-feira da Paixão. Fazer da Eucaristia, enquanto fruto precioso e memorial do mistério pascal, objeto de uma ação de graças celebrada com fé e alegria, uma vez mais no ciclo anual das festas, parece-nos de todo defensável e oportuno. Ora, o mistério central da Páscoa é celebrado como um todo não somente uma vez por ano, mas também cada domingo, sem que, no entanto, aqui pareça cabível a objeção de reduplicação. Desta forma, quando termina o Tempo Pascal e a Festa da Santíssima Trindade, temos a celebração da Festa da Eucaristia, celebrada com mais alegria e festa, que não podíamos fazer na Quinta-feira Santa.

É, sobretudo, no “próprio da missa” e de modo particular nas orações presidenciais que se pode ver claramente a autoria teológica de Santo Tomás de Aquino. Em sua obra “Suma Teológica” ele caracteriza o significado da Eucaristia sob um tríplice aspecto: do ponto de vista do passado, enquanto memorial da Paixão de Cristo que foi verdadeiro sacrifício; do ponto de vista da realidade presente, enquanto sacramento da nossa unidade com Cristo e dos homens ente si; e do ponto de vista do futuro, enquanto, prefigurativo do “gozo da divindade”.

Este tríplice significado é expresso com palavras quase idênticas nas três orações presidenciais:

  • Oração do dia (ou coleta) = “neste admirável sacramento, nos deixastes o memorial de vossa Paixão” (Missal Romano, p. 381);
  • Oração sobre as oferendas = “Concedei, ó Deus, à vossa Igreja os dons da unidade e da paz, simbolizados pelo pão e pelo vinho que oferecemos na sagrada Eucaristia” (Missal Romano, p. 381);
  • Oração depois da comunhão = “Dai-nos ... possuir o gozo eterno da vossa divindade, que já começamos a saborear na terra pela comunhão do vosso Corpo e do vosso Sangue” (Missal Romano, p. 381).

Encontramos também algo da teologia clássica na sequência, que pode ser cantada em seguida à segunda leitura.

O versículo da Aclamação Evangélica (depois do Aleluia) traz a palavra de Cristo a respeito do pão vivo que desceu do céu e nos garante a vida eterna (Lecionário Dominical, p. 240).

Temos três ciclos de leituras durante o Ano Litúrgico: Ano A (Marcos), Ano B (Mateus), Ano C (Lucas). João entra em alguns dias destes ciclos.

O Evangelho do ano A foi tirado do sermão da promessa da Eucaristia (Jo 6, 51-58). O “pão vivo que desceu do céu” foi prefigurado na comida do maná ao qual se refere a primeira leitura (Dt 8, 2-3. 14-16a). A segunda leitura fala-nos da fé da comunidade de Corinto: a finalidade da ação da Eucaristia é a participação no Corpo e no Sangue de Cristo e nossa união em um só corpo (1Cor 10, 16-17).

O evangelho do ano B (Mc 14, 12-16. 22-26) descreve a Última Ceia de Jesus juntamente com a instituição do mistério eucarístico, colocando assim a Festa de Corpus Christi em conexão com a Quinta-feira Santa. O sangue da Nova Aliança foi derramado em favor de muitos (por todos os homens) foi prefigurado por aquele sangue da Aliança que Moisés aspergiu sobre o povo (1ª leitura: Ex 24, 3-8). Cristo, enquanto “mediador de uma nova aliança”, obteve uma redenção eterna “não com o sangue de bodes e novilhos, mas com o próprio sangue” (2ª leitura: Hb 9, 11-15).

No Evangelho do ano C (Lc 9, 11b-17), o evangelista descreve-nos a multiplicação dos pães de um modo que deixa transparecer o milagre, muito maior, da Eucaristia (“Jesus tomando cinco pães e os dois peixes, elevou os olhos para o céu, os abençoou, partiu e deu aos seus discípulos para que os distribuíssem à multidão). A 1ª leitura: (Gn 14, 18-20) mostra-nos a misteriosa figura do rei-sacerdote Melquisedec que, com as ofertas do pão e do vinho, se tornou sinal prefigurativo de Cristo e de seu sacrifício eucarístico. A segunda leitura (1Cor 11, 23-26) contém o mais antigo testemunho (cerca de 55 d.C.) sobre a instituição da Eucaristia, interpretando-a como banquete comemorativo da morte sacrifical de Cristo: “Fazei isto em memória de mim... Pois todas as vezes que comeis deste pão e bebeis deste cálice, anunciais a morte do Senhor até que ele venha”.

A procissão de Corpus Christi.

A procissão que segue imediatamente à celebração da missa, embora oticamente mais impressionante, necessariamente cede o passo a um acontecimento salvífico tão denso como o proclamado e celebrado na Eucaristia desta festa.

Enquanto na bula de introdução “Transiturus” de Urbano IV não há uma referência, esta é atestada pela primeira vez em Colônia, para o período compreendido entre 1274 e 1279. Ela encontrou acolhida entusiasmada e pomposa decoração na maioria dos países, ainda no século XIV; a hóstia consagrada era conduzida em um ostensório preciso – originalmente recoberto por um véu e, mais tarde visível aos olhos de todos.

Foi sobretudo, na época barroca que a procissão de Corpus Christi se tornou um  cortejo triunfal de ação de graças, um “dia de pompa”. Quadros vivos, que já durante a Idade Média acompanhavam a procissão representando a Paixão de Cristo e seus personagens prefigurativos do Antigo Testamento agora se ampliaram e se transformaram em carros esplêndidos, cujas representações já não permitiam ver a relação do acontecimento com a Eucaristia. Por exemplo: São Jorge espetando a lança no dragão. O iluminismo deixou apenas pobres restos desta vida multicolorida.

Hoje tem-se procurado novas formas de celebrar esta procissão. Assim se organizam ofícios solenes em praças públicas para as quais as diversas paróquias se dirigem, partindo processionalmente de suas Igrejas Matrizes, a fim de que se sintam como se formando uma grande família com Cristo e entre si, graças ao “sacramento da unidade”, que é a Eucaristia.

Em muitos lugares as Paróquias da mesma cidade se reúnem numa mesma Igreja, para celebrar uma única missa e fazer uma única procissão. É a festa da “unidade”, é a festa de uma única Eucaristia.

Entretanto, depois de muitas e variadas tentativas e experiências, cresce o número daqueles que recomendam a conservação ou reintrodução da procissão do Santíssimo Sacramento. Neste sentido reportam-se a idéia, não de todo nova, mas novamente incluída no Vaticano II, da Igreja como povo de Deus em marcha, que só consegue superar os inúmeros perigos que enfrentam na caminhada com a salvadora presença de seu Senhor.

Celebrada de forma correta, no autêntico espírito da liturgia, a procissão de Corpus Christi poderia vir a ser, muito mais interessante do que qualquer outro tipo de procissão, uma maneira de levar as pessoas de nosso tempo – muitas vezes envolvidas com as dificuldades na vida – a sentir, por assim dizer, através do símbolo do real (que é Cristo Eucarístico), que não foram abandonadas na sua caminhada terrestre cheia de perigos, mas que estão com o Senhor eucarístico dentre deles, diante deles e atrás deles, na comunhão da Igreja, a caminho com o Cristo da parusia que há de vir para ser glorificado na pessoa de seus santos e para ser admitido na mesma pessoa de todos aqueles que creram (1Ts 1, 10).

(Adolf Adam – O Ano Litúrgico, p. 167-171)  

Vamos ter uma a Missa de Corpus Christi e a bênção do SS. Sacramento, na IGREJA MATRIZ DE NOSSA SENHORA DAS DORES, AMANHÃ, às 09:00 hs. E outra Missa de Corpus Christi, procissão e bênção do SS. Sacramento, com todas as Paróquias, NA PARÓQUIA SANTA LUZIA, AMANHÃ às 16:00 hs. Quem for nesta Missa, levar um quilo de alimento não perecível.

Desculpe, gente o tamanho do texto, mas não poderia deixar de falar sobre esta grande solenidade!

Até mais...        

 

Pe. Ocimar Francatto