Reflexão do Padre Ocimar desta semana: A Corporeidade é um Sacramento
Publicado em: 03/08/2017


Olá amigos e amigas!

Sejam todos bem vindos e bem vindas.

Na semana passada refletimos que o melhor termo usado na liturgia é corporeidade e não corpo, porque é mais completo e diz o que somos na realidade: corpo-alma-mente-espírito.

Hoje, damos mais um passo e afirmamos que “A CORPOREIDADE É UM SACRAMENTO”.

O que é um SACRAMENTO?

O termo vem do latim: “Sacramentum” (do grego “mysterium”):

“Sacra” = coisa sagrada,

“Mentum” = lembrar.

“Lembrar coisas sagradas”. Lembrar o encontro amoroso de Deus. Um encontro com Cristo através de um sinal – Deus se comunica – comunica a sua graça, a vida divina. Cristo torna-se presente em nós. É sinal sensível e eficaz da graça, instituído por Jesus Cristo e entregue à Igreja.

Sacramentos são sinais que contém, exibem, rememoram, visualizam e comunicam outra realidade diferente deles, mas presente neles. É uma realidade do mundo que, sem deixar o mundo, fala de outro mundo, do mundo da pessoa humana, das vivências profundas dos valores inquestionáveis e do sentido plenificador da vida.

A Igreja estabeleceu o número de sete sacramentos, são expressões pedagógicas da Igreja. Através dos sacramentos nos apresenta Cristo sete vezes em nossa vida terrena. São sete encontros que temos com Ele na vida. Acontecem nas sete situações (realidades principais) de nossa vida:

  • SACRAMENTOS DA INICIAÇÃO CRISTÃ: Batismo, Confirmação (Crisma), Eucaristia;
  • SACRAMENTOS DE CURA: Penitência (Reconciliação), Unção dos Enfermos:
  • SACRAMENTOS DO SERVIÇO DA COMUNHÃO: Ordem e Matrimônio.

No entanto tudo que fala da graça de Deus e da presença de Jesus Cristo também podemos chamar de sacramento.

No interior da celebração litúrgica podemos distinguir uma densidade sacramental diferenciada.

Há ações sacramentais centrais: eucaristia = oração eucarística, a fração do pão e a comunhão.  Porém, estas ações vêm acompanhadas de outros elementos indispensáveis que fazem parte da celebração sacramental: a assembléia litúrgica com seus ministérios, a proclamação e interpretação da Palavra, o tempo e o espaço litúrgicos... Num grau de menos intensidade, porém de grande valor, podemos considerar ainda a música, OS GESTOS E ATITUDES CORPORAIS, as vestes e os objetos litúrgicos.

A corporeidade humana manifesta-se como o sacramento do eu-espiritual e ainda mais radicalmente, o sinal visível da presença invisível de Deus criador no cosmos e da tarefa que Ele confia à pessoa humana de cultivar e guardar o jardim do universo (Genesis 2,15) no reconhecimento de sua soberania absoluta (Genesis 2, 28-30). São Paulo diz: “exorto-vos, portanto, irmãos, pela misericórdia de Deus, a que ofereçais vossos corpos como hóstia viva, santa e agradável a Deus: este é vosso culto espiritual” (Romanos 12,1).

A corporeidade é “UM LUGAR TEOLÓGICO” privilegiado. Considerar a corporeidade como lugar teológico é acolher a voz de Deus que fala por ele. Trata-se de fazer uma leitura teológica e litúrgica dos nossos gestos corporais, que acompanham o rito que celebramos. Isto é um sacramento. É o lugar pelo qual Deus entra em comunhão conosco e com a assembléia celebrante. A corporeidade, que entra no espaço da liturgia, vai se recompondo pouco a pouco, e ela mesma também é transformada em liturgia.

O livre louvor ao Criador (Gaudim et Spes 14) encontra plena realização na liturgia e se manifesta visivelmente através da gestualidade litúrgica. Ela permite expressar e tornar-nos participantes do mistério, em nossa totalidade de seres humanos, constituídos como corpo-alma-mente-espírito. Pelos elementos rituais, pelos sinais sensíveis, pela ritualidade, temos acesso ao mistério de Deus, revelado em Jesus Cristo; somos envolvidos nele, mergulhados nele, crescemos nele. Por isso podemos falar do “mistério da liturgia” (sacramento – sacramentalidade). Nenhum elemento ritual pode ser admitido como “enfeite”, ou ser reduzido a “acessório”, ou servir apenas para um deleite espiritual qualquer.

Até mais...

 

 

Pe. Ocimar Francatto