Pe. Ocimar Francatto: Dificuldades encontradas na participação litúrgica – Parte IV
Publicado em: 23/11/2017


 

Olá amigos e amigas!

Sejam todos e todas bem vindos e bem vindas a mais um dia de reflexão sobre a nossa Sagrada Liturgia.

Vamos continuar com nosso assunto sobre as DIFICULDADES ENCONTRADAS NA PARTIPAÇÃO LITÚRGICA. Hoje faremos a Parte IV.

7. Pouco espaço para o silêncio

A liturgia é um momento intenso de aprofundamento e oração e não pode se reduzir a um suceder-se interminável de palavras, avisos e cantos. Muitos fazem da liturgia um longo palavreado, multiplicando palavras e palavras ao longo da celebração.

8. O espaço sagrado muitas vezes não ajuda na participação

Muitos espaços sagrados não contribuem para uma boa participação. As vezes é muito pequeno, ou não aparece o que é essencial (altar-cadeira da presidência-ambão), e nem mesmo os objetos sagrados. Tem muito presbitério que mais parece um mural com tantos cartazes e avisos.

9. Introdução de novidades e criatividades indevidas

O Papa  São João Paulo II em sua Carta Encíclica Ecclesia de Eucharistia no artigo 52 fala sobre isso quando diz: "Temos a lamentar, infelizmente, que, sobretudo a partir dos anos da reforma litúrgica pós-conciliar, por um ambíguo sentido de criatividade e adaptação, não faltaram abusos, que foram motivo de sofrimento para muitos. Uma certa reação contra o 'formalismo' levou alguns, especialmente em determinadas regiões, a considerarem não obrigatórias as 'formas' escolhidas pela grande tradição litúrgica da Igreja e do seu magistério e a introduzirem inovações não autorizadas e muitas vezes completamente impróprias. Por isso, sinto o dever de fazer um veemente apelo para que as normas litúrgicas sejam observadas, com grande fidelidade, na celebração eucarística. Constituem uma expressão concreta da autêntica eclesialidade da Eucaristia; tal é o seu sentido mais profundo. A liturgia nunca é propriedade privada de alguém, nem do celebrante, nem da comunidade onde são celebrados os santos mistérios... A ninguém é permitido aviltar este mistério que está confiado às nossas mãos: é demasiado grande para que alguém possa permitir-se de tratá-lo a seu livre arbítrio, não respeitando o seu caráter sagrado nem a sua dimensão universal".

10. Formação litúrgica deficiente nos seminários, casas religiosas e faculdades de teologia.

Nestes lugares ainda não se colocou a Liturgia entre as disciplinas principais, conforme as exigências do Vaticano II (Sacrosanctum Concilium, 16). Ainda não se criou, no mundo acadêmico da teologia, uma consciência neste sentido. Por causa de uma formação litúrgica ainda deficiente, aliada a certo poder "deformador" da mídia, corremos o risco de continuarmos no espírito cultual da cristandade medieval e pós-tridentina, com alguma tintura moderna apenas, mas longe do Espírito do Senhor, longe da nossa fé (do mistério pascal de Jesus Cristo que nos empenha a um compromisso comunitário na vivência da fé). Corremos o risco de continuarmos a dar mais importância à "presença real", às devoções ao Santíssimo Sacramento (que são importantes), do que à Eucaristia como ceia memorial do sacrifício pascal de Cristo que nos libertou e continua nos libertando. Corremos o risco de continuarmos a ver a missa apenas como "remédio que cura", como se a celebração eucarística não fosse já a presença da salvação; ou "coisa do padre" que se encomenda para "homenagear" pessoas (vivos ou falecidos) e destacar eventos sociais, e não ação comunitária participada por todos; ou como show para ser piedosa e entusiasticamente "assistido", e não como ceia pascal dos cristãos em clima tranquilo de ação de graças. Corremos o risco de ver os sacramentos apenas como "remédio" (uma espécie de "vacina" contra os males), e não como celebração da Páscoa que nos libertou da raiz de todos os males. Corremos o risco de continuarmos com uma liturgia clerical, individualista, mágica e puramente devocional, sem compromisso comunitário, distante do projeto de Jesus Cristo. Sem formação litúrgica, corremos o risco de ver comprometida, de certa maneira, a reforma do Concílio Vaticano II.

11. A não transparência dos ministérios

Em muitos lugares já não existe mais diferença entre os ministérios e a assembléia. Há uma "febre de participação", onde todos participam de tudo, desaparecendo os ministérios, e assim não aparece de modo claro que a liturgia é diálogo da comunidade reunida com Deus.

12. Falta de uma "ritualidade" litúrgica.

Há uma diferença muito grande entre ritualismo, que é o rito esvaziado de sua alma e de seu entendimento e ritualidade, que é o rito feito de coração, é a vida (o mistério) expressa no rito. As ações litúrgicas são realizadas, muitas vezes, sem espiritualidade, feitas apenas de forma mecânica, rotineira.

Em uma palavra, precisamos garantir a centralidade do mistério pascal e oferecer amplo espaço para que o principal participante, o Cristo seja de fato um "participante ativo" e que apareça toda a ministerialidade da assembléia litúrgica, como povo sacerdotal.

Vejam que temos um longo caminho para percorrer, para que possamos fazer com que a liturgia seja o “auge para o qual se dirige a ação da Igreja e, ao mesmo tempo, a fonte donde emana toda a sua força” (Sacrosanctum Concilium, 10).

Até mais...

 

Pe. Ocimar Francatto