Pe. Ocimar Francatto reflete sobre "Níveis na participação Litúrgica"
Publicado em: 05/01/2018


Olá queridos amigos e amigas!

Sejam todos e todas bem-vindos e bem vindas a este nosso primeiro encontro semanal de 2018 de formação litúrgica.

Espero que tenham começado este ano de 2018 com muita disposição em fazer esta grande aventura de juntos, cada vez mais, entrar neste mundo da Liturgia, para que possamos celebrá-la, amá-la e vive-la, cada vez mais e melhor.

Na semana passada meditamos sobre a participação da assembléia na liturgia.

Hoje queremos falar dos NÍVEIS NA PARTICIPAÇÃO LITÚRGICA.

A constituição conciliar usa vários adjetivos quando fala da participação do povo na liturgia. Esses níveis são de certa forma progressivos, embora interligados e inseparáveis. Com isso fazemos uma experiência de Deus na liturgia. A experiência litúrgica não é uma experiência de Deus usando a liturgia apenas como ambiente ou estímulo para condicionar esta experiência. Por isso temos que fazer uma distinção entre a experiência de Deus na liturgia e a experiência litúrgica de Deus. Tem pessoas que fazem da liturgia um momento e um ambiente propício para sua oração individual, procurando um encontro com Deus de sua devoção, sem a preocupação de entrar no dinamismo celebrativo e de fazer experiência da própria ação litúrgica, como ação comunitária com seus conteúdos teológico-litúrgicos específicos.

Níveis da participação:

Participação exterior: É a participação corporal, sensível: cantar, andar, comer, ungir... A participação que se transforma numa "experiência litúrgica" tem uma dimensão corporal à medida que tomamos consciência de nosso corpo, dos movimentos, da respiração, dos vários sentidos envolvidos na ação, da ocupação do tempo e do espaço; à medida que deixamos que nosso ser mais profundo dirija essas ações.

Participação interior: É a participação que acontece na "alma", no nível da psique. A ação externa toca minha concepção interior, "me diz algo", "mexeu comigo". Esta participação pode ocorrer no nível do inconsciente ou pode aflorar em minha consciência. Quando a celebração ativa o inconsciente, somos capazes de fazer a experiência, pois através dele podemos encontrar a alma. O inconsciente é a porta da qual nós passamos para encontrar a alma. É por meio dele que os fatos comuns se tornam experiências que repentinamente adquirem alma, e a significação adquire contornos vividos quando as emoções são despertadas. A experiência litúrgica é uma experiência afetiva, pois me sinto envolvido com aquilo que é celebrado.

Participação consciente: Quando nossa mente acompanha as palavras, os gestos, os cantos, cada uma das ações, compreendendo o que estamos fazendo. É quando sei, compreendo, aceito, aquilo que estamos fazendo e que Deus está realizando conosco através da ação ritual. É pela consciência que os símbolos e ritos ganham um referencial objetivo, ligado à fé cristã. Isto supõe catequese, supõe iniciação. Supõe conhecimento bíblico-litúrgico e teológico-espiritual que poderá ir crescendo com o tempo: desde o sentido do sinal-da-cruz até a compreensão do ano litúrgico e do mistério celebrado na liturgia como um todo e em cada uma de suas partes. Trata-se de um conhecimento que vai além de nossa capacidade de raciocínio. É um conhecimento espiritual, na fé, que nasce do anúncio e da meditação da palavra de Deus, da tradição litúrgica, do discernimento da presença do Senhor nos sinais dos tempos.

Participação plena: É a experiência da identificação, da união. É a identificação com Jesus Cristo, sua missão, sua morte-ressurreição, que vai crescendo na comunhão do Pai, no Espírito. A participação plena supõe a participação na sagrada comunhão.

Participação frutuosa: A participação na celebração dá frutos na vida, na missão, no dia-a-dia, no testemunho, no compromisso, na oração e comunhão contínuas com o Senhor, no amor aos irmãos e irmãs. É liturgia-celebração se projetando e tendo continuidade na liturgia-vida.

Participação ativa: Sugere ação, e não apenas o fato de ser objeto da ação realizada pelos ministros. Todo povo cristão é chamado a participar ativamente de todas as ações litúrgicas (Sacrosanctum Concilium, 30): entrar em procissão, responder à saudação, cantar, aclamar, assumir as atitudes do corpo (sentar-se, ficar de pé, ajoelhar-se, levantar as mãos...), acompanhar as orações presidenciais, ouvir as leituras, a homilia e possíveis convites, professar a fé, fazer preces, levar as oferendas ao altar... Não é sinônimo de ativismo ou ação puramente exterior, é interior e espiritual, da qual a externa é sinal e reflexo. Na participação litúrgica há também um aspecto "passivo", na medida em que deixamos Deus (o Pai, o Filho, o Espírito Santo) agir em nós.

Participação fácil: Nada deve atrapalhar ou dificultar a participação de toda a assembléia nas ações litúrgicas. Daí a necessidade de se adaptar e inculturar a participação, a liturgia (Sacrosanctum Concilium, 21 e 37ss.), realizar as celebrações na linguagem (verbal, conceitual, gestual, musical) do povo reunido.

Participação piedosa: Esta palavra não deve ser entendida em seu sentido comum de sentimento religioso, mas em seu sentido bíblico. Trata-se da atitude de Jesus, o justo, o servo do Senhor, servo fiel, que ama o Senhor e que é eficiente na execução de sua palavra. Não basta ser um cristão "praticante" só no sentido de estar presente em todas as celebrações e rezar bastante. É necessário o compromisso com a causa do Reino.

Embora não seja colocado pela Sacrosanctum Concilium, na liturgia pode haver uma participação "zero", quando há só apatia, passividade, impermeabilidade ao conhecimento.

Nossa experiência litúrgica não é a última palavra. Deus está sempre além. Toda pessoa humana tem a necessidade do contato com o transcendente, o divino. Há um vazio para ser preenchido, um desejo para ser satisfeito, um amor para ser compreendido. O transcende não está separado das coisas, das pessoas, da vida..., mas é como seu "lado de dentro", sua "alma" que expressa o verdadeiro sentido, fonte e horizonte de tudo o que existe. Embora esteja presente a tudo, não é tão evidente: é preciso que seja buscado, descoberto, aceito, abraçado. Trata-se de uma auto-entrega, na aceitação do "Outro", que vem ao nosso encontro nos plenificar.

Até mais...

 

Pe. Ocimar Francatto