Pe. Ocimar Francatto: "O altar como um dos elementos do espaço sagrado - Parte I
Publicado em: 16/02/2018


Olá amigos e amigas!

Que bom é estarmos juntos para mais uma reflexão da nossa Sagrada Liturgia.

Com a Celebração da Quarta-feira de Cinzas, iniciamos, com toda a Igreja, o Tempo da Quaresma, uma caminhada em direção da Páscoa do Senhor e nossa.

Neste Tempo Quaresmal a Igreja no Brasil vive a Campanha da Fraternidade, que neste ano de 2018, tem como tema: “Fraternidade e superação da violência”, com o lema: “Vós sois todos irmãos” (Mt 23,8).

Que possamos viver intensamente esse tempo, renovando nosso desejo de sermos construtores da paz.

Como estamos falando do Espaço Sagrado, vamos refletir sobre O ALTAR COMO UM DOS ELEMENTOS DO ESPAÇO LITÚRGICO. Hoje faremos a Parte I e na próxima semana a Parte II.

O Altar também é conhecido como MESA DA EUCARISTIA.

No prefácio V da Páscoa rezamos que Cristo é "sacerdote, altar e cordeiro". Na carta aos Hebreus, 4, 14: e 13, 10, vemos que o Cristo é o "sumo Pontífice e o Altar Vivo do Templo Celeste (Ritual de Dedicação de Altar, 1). Portanto "Cristo, Cabeça e Mestre, é o verdadeiro altar, seus membros e discípulos são também altares espirituais, em que se oferece a Deus o sacrifício de uma vida santa" (Ritual de Dedicação de Altar, 2).

O altar é, portanto o "centro de toda a liturgia eucarística" (Instrução Geral sobre o Missal Romano, 73), por isso se diz que o altar é o sinal de Cristo, ou que o "altar é Cristo" (Ritual de Dedicação de Altar, 4).

A palavra altar vem do latim "altus" que pode significar "estrutura alta", como também alimentar ou nutrir e do verbo "arere", que significa queimar, arder.

Em todas as religiões existem altares que são pequenas estruturas de pedras, elevadas, onde se depositam oferendas, alimentos para as divindades. Em alguns casos são reservados para imolação de vítimas.

O altar cristão se origina da mesa hebraica ao redor da qual as famílias se reuniam para as refeições. Eram pequenas mesas de madeira, que recebiam o pão e o vinho para a eucaristia, era assim mesa posta para a refeição convivial, partilha, comunhão.

A partir do século IV o altar é visto como rocha viva da qual emana a água viva que é o próprio Cristo (1Coríntios 10,4, Mateus 21, 42; 1Pedro 2, 4), desta forma vai desaparecendo pouco a pouco os altares de madeira para dar lugar aos altares de pedra.

Com a multiplicação das missas começa-se a multiplicar os altares. Perde a característica de mesa para tornar-se suporte ou pedestal de urna com relíquias ou a imagem do santo. Não ocupa mais o lugar central da igreja, próximo aos fiéis, mas é deslocado para o fundo (ou laterais) da igreja encostando-se à parede.

No século XVI aparece o sacrário que é colocado sobre o altar, rodeado de relicários de santos, resultando assim somente o valor sacrifical (adoração) da Eucaristia, deixando de lado o valor convivial da celebração.

Somente com o Concílio Vaticano II nas suas diversas constituições, sobretudo a Sacrosanctum Concilium, Lumen Gentium, nos documentos Eucharisticum Mysterium, Inter Oecumeneci e na Instrução Geral do Missal Romano, restitui à Eucaristia o seu caráter de "banquete memorial" da páscoa de Cristo.

Entre os inúmeros escritos do Papa São João Paulo II gostaria de destacar a Carta Encíclica "Ecclesia de Eucharistia", onde diz que a Eucaristia "é o verdadeiro banquete, onde o Cristo Se oferece como alimento" (EE, 16) e a Carta Apostólica "Mane Nobiscum Domine", onde também diz: "não há dúvida de que a dimensão mais evidente da Eucaristia seja a do banquete. A Eucaristia nasceu, na noite da Quinta-feira, no contexto da ceia pascal. Ela, portanto, traz inscrito na sua estrutura o sentido do convívio" (Mane Nobiscum Domine. 15). Desta forma, hoje se entende o mistério eucarístico como "sacrifício, presença, banquete" (Ecclesia de Eucharistia, 61) e o altar representa "o sacrifício da cruz e mesa de refeição” (Instrução Geral sobre o Missal Romano, 296).

 

No Ritual da dedicação de Igreja, o altar é a peça que recebe a maior atenção e veneração. Ele é:

  • ASPERGIDO COM ÁGUA BENTA: depois da aspersão sobre a assembléia, as paredes, evocando o batismo (Ritual Dedicação de Igreja - RDI, 8-10; Ritual de Dedicação de Altar - RDA, 17);
  • UNGIDO COM O CRISMA: tornando-se símbolo de Cristo, o ungido do Pai, que se entrega para a vida do mundo (RDI, 63-65; RDA, 22a);
  • QUEIMA-SE SOBRE ELE O INCENSO: sinal da oferta do Cristo que sobe a Deus como perfume levando consigo as orações do Povo de Deus e a oferta de cada um de nós (RDI, 66-68; RDA, 22b);
  • REVESTIDO COM A TOALHA: é a dimensão festiva da reunião em torno dele (RDI, 69; RDA, 22c);
  • lembrando que Cristo é a luz que ilumina a Igreja e a humanidade (RDI, 70-71, RDA, 22d).

Na próxima semana vamos continuar refletindo sobre o Altar.

Até mais...

 

Pe. Ocimar Francatto