Pe. Ocimar Francatto reflete sobre a "A história da Oração dos Fiéis Parte II"
Publicado em: 06/04/2018


Olá amigos e amigas!

Na alegria pascal, sejam todos bem vindos e bem vindas.

No domingo passado, Domingo de Páscoa, até o próximo domingo, 2º Domingo da Páscoa, a Igreja celebra a OITAVA PASCAL. São oito dias para celebrar as alegrias da Ressurreição do Senhor. Iniciou-se, também, o TEMPO PASCAL, são OITO SEMANAS, que terminam com o Domingo de Pentecostes. “São cinquenta dias que devem ser celebrados com alegria e exultação, como se fossem um só dia de festa, ou melhor, como um grande domingo” (Normas Universais Sobre o Ano Litúrgico e o Calendário, 22).

O número oito tem um significado muito grande na liturgia. É O DIA EM QUE CRISTO REFEZ A CRIAÇÃO COM SUA MORTE E RESSURREIÇÃO! Deus fez o mundo em seis dias e no sétimo descansou (Gn 1 – 2,3). Cristo refaz, em sua Morte e Ressurreição, toda a criação no oitavo dia!

Então, em plena oitava pascal, continuamos nossa reflexão sobre a Sagrada Liturgia.

Vamos continuar refletido sobre “A HISTÓRIA DA ORAÇÃO DOS FIÉIS”. Hoje faremos a Parte II.

Como primeira menção da oração dos fiéis, como parte da liturgia que está depois da Homilia e antes do Sacramento Eucarístico, está em São Justino.

São Justino escreve em sua I Apologia (por volta do ano 155) quando fala do batismo: “depois que assim foi lavado aquele que creu e aderiu a nós, nós o levamos aos que chamam irmãos, no lugar em que estão reunidos, a fim de elevar fervorosamente orações em comum por nós mesmos, por aquele que acaba de ser iluminado e por todos os outros espalhados pelo mundo inteiro, suplicando que se nos conceda, já que conhecemos a verdade... consigamos a salvação eterna. Terminadas as orações, nós damos mutuamente o ósculo da paz. Depois, àquele que preside aos irmãos é oferecido pão e uma vasilha com água e vinho” (65); quando fala da liturgia dominical: “depois (das leituras e da homilia) levantamo-nos todos juntos e elevamos nossas preces. Depois de terminadas, como já dissemos, oferece-se pão, vinho e água” (67).

É muito provável que a liturgia romana, a partir do século III, conhecesse a oração dos fiéis não só na forma, mas também na letra, como nós a rezamos ainda hoje, nas grandes preces da sexta-feira santa: pela Igreja, pelo papa, pelo clero, pelos leigos, pelos catecúmenos, pela unidade dos cristãos, pelos judeus, pelos que não crêem no Cristo, pelos que não crêem em Deus, pelos poderes públicos e por todos os que sofrem provações.

No Oriente houve uma evolução um pouco diferente. A oração dos fiéis se faz, desde os tempos antiquíssimos, em forma de ladainha. Reza-se também pela paz no mundo, por uma boa colheita, para o bem dos cristãos, pelos viajantes, pelos benfeitores, pelos falecidos, pelo perdão dos pecados e por uma boa morte.

Parece que a introdução do “Kyrie eleison” (Senhor, tende piedade de nós), na liturgia romana, levou ao abandono da oração dos féis no fim da Liturgia da Palavra. Não se sabe com segurança se o “Kyrie eleison”, no princípio da missa, é fruto desta “transladação” para esse momento da litânia de oração ou se são independentes.

Quando, no tempo de Gregório Magno, a ladainha do “Kyrie eleison” foi reduzida à simples invocação “Kyrie e Chirste eleison”, as intercessões na oração eucarística eram as únicas que existiam ainda na missa. No entanto, elas não eram orações dos fiéis, visto que a oração eucarística era recitada somente pelo presidente da celebração da missa.

No rito romano, a partir do século VI, a oração dos fiéis praticamente desapareceu. Só restou a Oração solene da Sexta-feira Santa, que chegou até nós.

Diversas causas contribuíram para o desaparecimento da oração dos fiéis. Essas são as principais:

  • Nascimento de devoções autônomas: a liturgia era celebrada numa língua desconhecida pelo povo, daí o nascimento de várias devoções que aos poucos vão ocupar o espaço da missa;
  • colocava mais atenção nos gestos litúrgicos que eram visíveis, gestos que o povo contemplava, mesmo não compreendendo as palavras. Por exemplo: a alva do padre era símbolo da veste com que se cobriu Jesus;
  • Novos métodos de oração mental: leitura – meditação – diálogo com Deus. A oração dos fiéis ocupa o lugar do diálogo com Deus, que geralmente cada um fazia em silêncio.

Nas regiões dos Alpes sentiu-se a falta da oração dos fiéis na missa. Foram criadas fórmulas de oração de intercessão depois da homilia, que substituíram a antiga oração dos fieis. Estas formas sobreviveram, em parte, até o tempo do Movimento Litúrgico, no século XX.

Já nos anos entre as duas guerras mundiais houve indícios de um renascimento da oração dos fiéis, propriamente dita. Numa primeira fase serviam como modelo as ladainhas de intercessão das liturgias orientais. Durante a 2ª Guerra Mundial em muitas comunidades, sobretudo nas regiões de língua alemã, os fiéis rezavam nesta forma; várias dioceses introduziram oficialmente a oração dos fiéis.

O Concílio Vaticano II sancionou estas iniciativas (SC 53) para toda a Igreja.

O Movimento Litúrgico teve um grande papel na mudança da liturgia, pois o povo foi interessando-se pela liturgia e, consequentemente, se interessou em participar da oração dos fiéis.

Hoje o Missal Romano fala em “oração universal” ou “oração dos fiéis”.  A “oração universal” está mais conforme a celebração habitual, em nossos dias, na liturgia romana.

Até mais...

 

Pe. Ocimar Francatto