Pe. Ocimar Francatto: “A estrutura do texto do Hino do Glória - Parte I”
Publicado em: 29/06/2018


Olá amigos e amigas!

Sejam todos muito bem vindos e bem vindas.

Vamos, nestas semanas, nos dedicarmos a reflexão da ESTRUTURA DO TEXTO DO HINO DO GLÓRIA. Como o assunto é longo vamos dividi-lo em quatro partes. Hoje faremos a Parte I.

Eis o texto do Hino do Glória que está no Missal Romano:

Glória a Deus nas alturas,

e paz na terra aos homens por Ele amados.

Senhor, Deus, rei dos céus,

Deus Pai todo-poderoso:

nós vos louvamos,

nós vos bendizemos,

nós vos adoramos,

nós vos glorificamos,

nós vos damos graças

por vossa imensa glória.

Senhor Jesus Cristo, Filho Unigênito,

Senhor Deus, Cordeiro de Deus,

Filho de Deus Pai.

Vós que tirais o pecado do mundo,

tende piedade de nós.

Vós que tirais o pecado do mundo,

acolhei a nossa súplica.

Vós, que estais à direita do Pai,

tende piedade de nós.

Só vós sois o Santo,

só vós, o Senhor.

só vós, o Altíssimo,

Jesus Cristo,

com o Espírito Santo,

na glória de Deus Pai.

Amém.

Na estrutura do Hino do Glória, destacam-se claramente, três seções:

  1. o canto dos anjos na noite santa;
  2. o louvor a Deus;
  3. a invocação de Cristo.

1. O canto dos anjos na noite santa

No início, encontra-se o canto dos anjos como relatado por Lucas (Lucas 2, 14). Podemos dizer que as duas partes principais do Glória estão ordenadas de alguma forma seguindo os lemas bíblicos que antecedem:

Glória a Deus: juntamos nossas vozes ao canto de louvor dos anjos;

paz aos seres humanos: voltamos nossas preces Àquele no qual nos veio a paz do céu, para que Ele plenifique sua obra.

Glória a Deus nas alturas

e paz na terra aos homens de boa vontade.

Ainda não reproduz o sentido original. Não é a boa vontade dos seres humanos, é a boa vontade de Deus, seu beneplácito, graça e benevolência.

Portanto “boa vontade”, são os seres humanos de sua graça, de sua eleição, os seres humanos aos quais é levada a mensagem do Reino de Deus.

Ao pé da letra é uma restrição da mensagem da paz. Porém, uma vez que o convite para o Reino se dirige a todas as pessoas, estas palavras expressam apenas que não é através de uma casualidade do destino, mas, pelo desígnio (“conforme o desígnio benevolente de sua vontade, ele nos predestinou à adoção como filhos, por obra de Jesus Cristo, para o louvor de sua graça gloriosa, com que nos agraciou no seu bem amado” – Efésios 1, 5-6) livre e benevolente de Deus que a “paz” chegue às pessoas humanas, às pessoas humanas de sua graça. “Os filhos e filhas de seu Reino”. Este desígnio começa a se tornar realidade através do nascimento do redentor.

A entrada do Salvador no gênero humano significa verdadeiramente a glorificação de Deus e significa “paz” para os seres humanos, o início do tempo de salvação.

Neste sentido podemos dizer que o canto dos anjos contém não apenas um desejo, mas a afirmação de um fato: agora é dada Glória a Deus e paz aos seres humanos. É o mesmo acontecimento, apenas em outra frase de sua evolução que o próprio Senhor circunscreve no fim de sua vida, com as palavras da oração sacerdotal: “Eu te glorifiquei na terra, conclui a obra que me encarregaste de realizar” (João 17, 4).

Mas justamente porque a glorificação de Deus e a salvação da humanidade são “realizadas” somente pelo sacrifício da paixão do Senhor, e porque seus frutos, mesmo assim, ainda precisam, e vão, amadurecer até o fim do mundo, não é errado ver comemorado no canto dos anjos aquilo que efetivamente aconteceu, mas o plano de salvação, o desígnio, aquilo que deve ser realizado apenas passo a passo: Glória seja a Deus nas alturas e paz às pessoas de sua graça. Isto vale mais para o canto como nós o repetimos nos dias terrestres da Igreja. Como cada dia que a Igreja vive, como cada vez que ela reúne seus filhos e filhas para a oração, e tanto mais quando ela os reúne para a celebração da eucaristia, o mundo é perpassado por um raio de luz, ele vê com júbilo, mas também com saudade, o Reino de Deus se aproximar, e também aproximar-se, apesar de todos os obstáculos, a realização do grande plano: que glória seja dada a Deus, e às pessoas da eleição, paz e salvação.

“Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens que ele ama!” (Lc 2, 14).

O texto original de Lucas diz; “e sobre a terra paz aos homens do querer (de Deus”. Por causa do latim “bonae voluntatis”, foi traduzido por muito tempo por “e paz aos homens de boa vontade”. Para eliminar esse contrassenso, o texto litúrgico diz: “e paz na terra aos homens por Ele amados”. Mas esta tradução é também contestável, por causa das interrogações frequentes: “E os outros?”. Aqueles que Deus não ama? Embora, seria quase impossível pensar em “homens que Deus não ama”, pois a essência de Deus é o amor (cf. 1Jo 3,11). Então uma tradução sem equivoco seria “paz aos homens porque Deus os ama”.

Até mais...

 

Pe. Ocimar Francatto