Pe. Ocimar Francatto reflete sobre: Cobrir as Imagens da Igreja na Quaresma
Publicado em: 04/04/2019


Olá amigos e amigas!

Acolho a todos e a todas, que com carinho acompanham, a nossa reflexão semanal sobre a Sagrada Liturgia.

Gostaria de interromper, hoje, a reflexão que estamos fazendo sobre a Procissão Inicial da Celebração Eucarística para tratar de outro assunto: COBRIR AS IMAGENS DA IGREJA DURANTE A QUARESMA.

Tenho percebido que muitas pessoas cobrem as imagens sem saber o significado e, o que é pior, no dia errado. Então, vamos responder a duas perguntas:

  • Por que se cobrem as imagens na Igreja?
  • Quando devem ser cobertas?

POR QUE SE COBREM AS IMAGENS NA IGREJA?

Em alguns lugares se conservou a tradição de cobrirem as imagens de Nosso Senhor, de Maria Santíssima, dos Santos e Santas, e das Cruzes da Igreja com um pano (véu) ROXO.

Esse era um costume ligado aos penitentes públicos, que eram expulsos do interior da Igreja, dentro dos Rituais Penitenciais Públicos. Como toda a comunidade é pecadora, passou-se a privar a todos do altar, das cruzes e imagens de santos e santas.

Também porque antigamente no início da Quaresma, se cobria e tirava da Igreja tudo que servia de ornamentação. A igreja de pedra (edifício) deve tomar parte na penitência da Igreja, Esposa de Cristo. Entendia-se por ornamentação: as cruzes, relicários, imagens de santos e santas, Evangeliário, etc. A Cruz era considerada como objeto de ornamentação e por isso era coberta. Só coberta se levava pela Igreja.

Do véu da cruz e das imagens de santos e santas, para ser mais expressivo, passou-se ao véu do altar inteiro e depois de todo o coro, a parte mais enfeitada da Igreja. Tomou o nome de VÉU QUARESMAL (velum quadragesimale) e recordava aos fiéis a obrigação de jejuar.

A cerimônia parece ser de origem galicana. Era conhecida na Gália já no século VII, na Itália por volta do ano 1000. Toda a sua significação profundamente mística só a recebeu no século XI. A cruz velada no altar representa o grande mistério de que Nosso Senhor Jesus Cristo, escondendo-se dos seus inimigos, escondeu a sua divindade por nosso amor. Essa humilhação de amor de nosso Redentor alcançou a nossa adoção de filhos e filhas adotivos de Deus e a glorificação no céu.

Para nós hoje o sentido desse ato de cobrir as imagens sacras, fundamenta-se no luto pelo sofrimento de Cristo, levando os fiéis a refletirem, ao contemplar esses objetos sagrados cobertos de roxo, que simboliza a tristeza, a dor e penitência.

Cobrir e descobrir os santos e santas, então, nos remete ao Mistério Pascal, que é mistério de Morte e Ressurreição, de sofrimento e de alegria, de perca e de vitória. Pois cobrir os santos e santas representam que eles, antes de passarem pelo mistério da glória de Cristo, passaram pelo mistério da dor, dos sofrimentos de morte de Jesus.

É um mistério de “solidariedade” e união profunda ao Mistério da Paixão do Senhor. Nós os cobrimos dando um ar “pensante” ao espaço litúrgico, nada alegre, pois agora é tempo de pensar na Paixão do Senhor. Isso fica mais claro, quando na Vigília Pascal vemos voltar a alegria, não mais os panos roxos, cor pesada e triste, mas agora as imagens coloridas e bonitas dos santos e santas, sinais de quem venceu com Cristo, tendo passado pela sua Cruz em união à Dele. 

Cobrir os santos e santas é linguagem simbólica muito expressiva, que tem sido recuperada em muitas Comunidades Cristãs, que estão se conscientizando do valor e da necessidade do simbolismo na caminhada humana e litúrgica.

Também conhecido como “VELATIO”, esse costume de cobrir as imagens das Igrejas, com tecido roxo, é para que os fiéis “NÃO SE DISTRAIAM” com os santos e santas e que sua devoção deve estar fundamenta no Mistério Pascal de Cristo, ou seja, na sua Paixão, Morte e Ressureição. Assim, cobrindo-se todas as Imagens dos santos e santas e as Cruzes, surge com maior evidência o que há de essencial nas Igrejas: o Altar, onde se realiza e atualiza o Mistério Pascal de Cristo.

QUANDO SE DEVEM COBRIR AS IMAGENS NA IGREJA?

Existem lugares que as imagens são cobertas durante a Quaresma: ESTÁ ERRADO!

O Missal Romano coloca esta rubrica no Sábado da 4ª semana da Quaresma, na página 211: “Pode-se conservar o costume de cobrir as cruzes e imagens da igreja, a juízo das Conferências Episcopais. As cruzes permanecerão veladas até o fim da celebração da Paixão do Senhor, na Sexta-feira Santa. As imagens, até o início da Vigília Pascal”. Esta rubrica está também contida na Paschalis Sollemnitatis (a Preparação das Festas Pascais, nº 26).

Antes da reforma litúrgica do Vaticano II (1965), no Missal de Pio V, era obrigatório cobrir, com véus roxos, as cruzes e imagens expostas ao culto na Igreja. Hoje a norma diz: “Pode-se conservar o costume de cobrir as cruzes e imagens da igreja”.

As cruzes são descobertas: “NO FINAL DA CELEBRAÇÃO PAIXÃO DO SENHOR, NA SEXTA-FEIRA SANTA”. E as imagens são descobertas “DURANTE O HINO DO GLÓRIA DA VIGILIA PASCAL”, enquanto se acedem as velas do altar. Muitas comunidades, para facilitar, descobrem as Imagens enquanto a Equipe prepara o ambiente celebrativo para a Vigília Pascal. Para facilitar a celebração isso é possível, uma vez que a Igreja fica fechada, pois “No Sábado Santo a Igreja permanece junto ao sepulcro do Senhor, meditando sua paixão e Morte, e abstendo-se (desnudado o altar) do sacrifício da Missa até a Vigília Pascal” (Missal Romano p. 269).

Desta forma as Imagens e as cruzes são cobertas, DESDE O 5º DOMINGO DA

QUARESMA, e não antes, como acontece em muitos lugares.

Em sua pedagogia de mãe, a Igreja nos introduz no mistério celebrado. Será a partir do 5º Domingo da Quaresma que nas preces e no pensamento da Igreja, tratar-se-á dos sofrimentos da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo. Depois de passados alguns Domingos da Quaresma, que é a preparação para a Páscoa de Cristo, e também o 4º Domingo da Quaresma, que é chamado “Domingo laetare” (Domingo da alegria, em vista da proximidade da Páscoa), nos aproximamos da Celebração da Paixão de Cristo.

Para se ter uma idéia disso basta analisarmos os Prefácios. Para a Quaresma temos cinco prefácios (Missal Romano pp. 410 - 418 - fora os cinco do Ano A – Missal Romano pp. 181, 188, 197, 204, 212). E temos dois Prefácios da Paixão do Senhor (Missal Romano pp. 419-420).

O Prefácio da Paixão do Senhor I, que fala da Poder da Cruz, diz: “NA QUINTA SEMANA DA QUARESMA e nas Missas dos mistérios da Cruz e da Paixão do Senhor” (Missal Romano, p. 419).

É importante que as Equipes de liturgia tenham conhecimento de tudo isso, pois fazendo de forma errada, como já vi em alguns lugares, estamos impedindo a comunidade de celebrar de forma correta os Mistérios da Morte e Ressureição de Cristo.

A Equipe de Liturgia, na preparação do ambiente litúrgico deve ajudar a comunidade a celebrar de modo correto os Mistérios de Cristo, e não de modo errado. Vejam a responsabilidades de nossas Equipes de Liturgia!

Até mais...

 

Pe. Ocimar Francatto