5º Domingo da Quaresma
Publicado em: 02/04/2019


“Ele veio para revelar a misericórdia”

Leituras: Isaías 43, 16-21; Salmo 125 (126), 1-2ab.2cd-3.4-5.6; Carta de São Paulo aos Filipenses 3, 8-14; João 8, 1-11.

COR LITÚRGICA: ROXA

Animador: Nesta Eucaristia somos convidados a experimentar a grande misericórdia de Jesus que está sempre pronto a nos perdoar, acolher e salvar. Jesus nos oferece sua graça e nos coloca no caminho da conversão. Que saibamos sempre voltar ao Pai, pois está sempre de braços abertos para nos receber

1. Situando-nos

Neste quinto domingo da Quaresma, somos convidados a reconhecer nossos pecados e a acolher os irmãos em suas fragilidades, em face de mais uma manifestação do poder libertador do agir misericordioso de Deus, através dos gestos e da Palavra de Jesus. A liturgia de hoje revela-nos um Deus que ama e cujo amor nos desafia a ultrapassar a escravidão da lei e das nossas próprias fragilidades para chegar à vida nova, à ressurreição.

Na reta final da caminhada em direção à Páscoa, o domingo de hoje se constitui num forte apelo à conversão. A conversão do coração significa mudança de orientação de vida. Ora, exige-se mudança radical quando a pessoa se encontra desviada do caminho do amor a Deus e aos irmãos, centrada em si mesma e “com as mãos repletas de pedras”.

A Quaresma é um tempo para cuidar de nosso coração, libertando-o daquilo que o destrói, da agressividade do julgamento e do rancor. E se fizermos parte do rol agraciado daqueles que necessitam da misericórdia, por não pertencermos ao grupo oficial dos “justos”, resta-nos a bem-aventurança da misericórdia do Cristo em seu olhar de ternura e em sua voz firme e suave que diz: “Eu também não te condeno. Podes ir, e de agora em diante não peques mais”. Permitamos que a misericórdia toque nossos corações!

Não são o castigo e a intolerância que resolvem o problema do mal e do pecado. Só o amor e a misericórdia geram vidas e fazem nascer o homem novo.

2. Recordando a Palavra

Depois de um dia tumultuado e que todos tinham voltado para sua casa, Jesus se retira no Monte das Oliveiras e aí passa a noite em oração.

Nas primeiras horas da manhã, ele já se encontra no templo e o povo ao seu redor atento a tudo o que ele ensinava.

A fala do Mestre e a escuta do povo é interrompida pela cilada dos fariseus e escribas. Diante de Jesus e no meio do povo colocam uma mulher surpreendida em flagrante adultério. Pela lei a mulher devia ser apedrejada (cf. Lv 20,10; Dt 22,23ss). Para testar a autenticidade e fidelidade da pregação do Mestre, eles desejam ouvir sua opinião. Jesus percebendo a armadilha, nada responde, serenamente se inclina e com o dedo começa a escrever no chão.

Jesus tem consciência de que o pecado não é um caminho aceitável, pois gera infelicidade e rouba a paz. No entanto, também não aceita pactuar com uma Lei que, em nome de Deus gera morte. Para Ele, o mais importante é revelar a atitude de Deus frente ao pecado e ao pecador.

Nervosos os acusadores insistem para que Jesus emita seu parecer. Jesus se ergue e sentencia: “Quem dentre vós não tiver pecado, atire a primeira pedra”. Não discute com eles a lei, apenas muda o alvo do julgamento. Pede que eles (fariseus e escribas) examinem a si mesmo à luz do que a Lei lhes exige. Os que imaginavam ser observantes da Lei e com o direito de julgar os outros, a começar pelos mais velhos, envergonhados, se retiram com suas pedras.

No fim, Jesus está com a mulher e nem lhe pergunta se está ou não arrependida. Livre dos acusadores, ela ouve as palavras de Jesus: “Eu também não te condeno. Podes ir, e de agora em diante não peques mais”. Ela está de pé diante daquele que não permite que alguém use a Lei de Deus para condenar. Ela é absolvida, redimida e dignificada (Evangelho).

Da Babilônia ecoa o grito por uma nova libertação. Os judeus exilados se sentem desorientados e sonham com um novo êxodo libertador. O profeta anuncia a iminência da libertação e compara a saída da Babilônia e a volta à Terra Prometida com o êxodo do Egito.

Os exilados devem confiar no Senhor. Ele não se esqueceu deles. Ele acompanha com solicitude e amor a caminhada do seu Povo. Esse “caminho” é o paradigma de nossa libertação que Deus nos convida a fazer na Quaresma e que nos conduzirá à Terra Prometida onde corre a vida nova (primeira Leitura).

Reconhecendo as maravilhas que o Senhor fez em favor de seu povo, o salmista nos convida a sair de nossos cativeiros e proclamar as vitórias que acontecem ao longo da caminhada do povo, unidas à vitória de Cristo. “Maravilhas fez conosco o Senhor, exultemos de alegria!” (Salmo Responsorial).

Paulo, da prisão, escreve com terna afeição aos amigos de Filipos. Relata sua experiência de conversão. Para se identificar com Cristo, abandonou inúmeras realidades. No horizonte de sua caminhada está Cristo crucificado e ressuscitado. A conversão exigiu dele uma nova escala de valores centrada em Jesus Cristo, que conduz a uma identificação com o seu amor, o seu serviço, a sua entrega (segunda leitura).

3. Atualizando a Palavra

A vida cristã é uma caminhada permanente em direção à Páscoa, à ressurreição. Eis que estamos na reta final para a Páscoa. Neste tempo de Quaresma, com maior intensidade, somos convidados a deixar para trás o passado que nos aprisiona e a aderir à vida nova que a lógica da misericórdia de Deus nos propõe.

Em cada Quaresma ressoa o apelo: “coração ao alto”, convidando-nos a olhar para o futuro e a ir além de nos mesmos, na busca do Homem Novo. Olhar para frente requer mudança de atitudes no sentido de esquecer os rancores do passado, os pecados, as tristezas que imobilizam a vida, daquilo que no presente é causa de queda, de fracasso, de frustração.

Sempre há um caminho longo pela frente, sempre podemos mudar o curso da nossa vida, de nossa história, basta que haja o desejo profundo de mudança no interior de nosso coração. Contudo, a conversão é um caminho em construção. Precisamos estar conscientes de que, enquanto caminhamos neste mundo, “ainda não atingimos a meta”. A identificação com Cristo é, pois, um desafio constante, que exige empenho diário, até chegarmos à meta do Homem Glorificado.

Olhando para a nossa sociedade, averiguamos que o fundamentalismo e a intransigência, muitas vezes, falam mais alto do que o amor misericordioso: mata-se, oprime-se, escraviza-se me nome de Deus; desacredita-se, calunia-se, em razão de preconceitos; marginaliza-se em nome da moral e dos bons costumes. Que fazer para transformar a realidade em que estamos mergulhados?

Jesus, face à atitude condenatória dos fariseus e escribas, denuncia a lógica dos que se julgam “perfeitos e autossuficientes”(..). “Devemos perdoar como pecadores, não como Justos (...) quando o pecador perdoa, compreende que seu perdão é mais para ser compartilhado que para ser concedido, não é dar do próprio, mas haurir de um dom que vem do alto, sem o qual não seríamos jamais capazes de misericórdia” (CENCINI A. Viver Reconciliados. São Paulo: Ed. Paulinas. 2002. p.114-115).

Todos temos alguma pedra na mão para jogar nos outros. Estamos todos a caminho e, enquanto caminheiros, somos imperfeitos e limitados. É preciso reconhecer, com humildade e simplicidade, que necessitamos todos da ajuda do amor e da misericórdia de Deus para chegar à vida plena do Homem Novo.

A única atitude que faz sentido, neste esquema, é assumir para com os nossos irmãos a tolerância e a compaixão que Deus tem para com todos os seres humanos. O mais importante não é acusar, mas que o amor seja mais forte que as hipocrisias.

Mais uma vez, contemplamos na história da salvação, que o agir de Deus não segue a lógica da morte, mas a lógica da vida. A proposta que Deus faz às pessoas, através de seu Filho, não passa pela eliminação dos que erram, mas por um convite à vida nova, à conversão, à transformação, à libertação de tudo o que oprime e escraviza.

“A imagem de Deus que Jesus nos revela “é a de Deus que aceita o ser humano com sua fragilidade, o compreende e o perdoa porque o ama”. “A misericórdia é a palavra-chave para indicar o agir de Deus para conosco. Deus é misericordioso, assim somos chamados também a sermos misericordiosos uns com os outros” (MV, n.9).

Intensificando nosso retiro quaresmal rumo à Páscoa, pela escuta da Palavra de Jesus, encontremo-nos com o Deus que ama e que nos diz: “Eu não te condeno”. A dinâmica de Deus é uma dinâmica da misericórdia, pois só o amor transforma e permite a superação das fragilidades humanas.

A lógica de Deus não é uma lógica de morte, mas uma lógica de vida. A proposta que Deus faz aos homens através de Jesus não passa pela eliminação dos que erram, mas por um convite à vida nova, à conversão, à transformação, à libertação de tudo que oprime e escraviza.

Destruir ou matar em nome de Deus ou em nome de uma qualquer moral é uma ofensa inqualificável a esse Deus da vida e do amor, que apenas quer a realização plena do homem (Portal Dehoniano, 5º Domingo da Quaresma, Ano C, cg. MV, n.9).

Que neste domingo, Jesus nos possibilite celebrar e vivenciar o amor misericordioso de Deus Pai que reconcilia e deseja a felicidade de todos os seus filhos e filhas.

4. Ligando a Palavra com a ação eucarística

A Eucaristia é sacramento de unidade, de comunhão. Para a celebração eucarística, somos convidados a tomar parte, com nossas mãos repletas de frutos, de uma vida pautada pela dinâmica do amor solidário. As mãos carregadas de pedras não se abrem ao sacramento do amor.

Somente com um coração convertido, poderemos tomar parte dignamente da Celebração Eucarística que começamos sempre nos reconhecendo pecadores, confiantes na misericórdia de Deus e no perdão dos irmãos.

Como é possível apresentar-nos diante do altar, para assentar à mesa da Palavra e da Eucaristia, se estivermos divididos, julgando e condenando uns aos outros? O perdão recíproco é condição indispensável, antes de achegarmo-nos às mesas, para recebermos o “Pão da Vida”.

A Eucaristia atualiza o perdão uma vez por ela se apresenta a Deus Pai o sacrifício de Jesus pela remissão de nossos pecados. “Ó Deus, que por vosso Filho realizais de modo admirável a reconciliação do gênero humano, concedei ao povo cristão correr ao encontro das festas que se aproximam, cheios de fervor e exultando de fé” (Oração do dia, 4º Domingo da Quaresma).

A Eucaristia que celebramos é sacramento da misericórdia e do perdão divino. Não a celebramos porque somos melhores do que os outros, e nem somos perdoados porque merecemos, mas porque Deus é perdão gratuito.

É por isso que, com a Igreja, rezamos: “Ó Deus, que recompensais os méritos dos justos e perdoais aos pecadores que fazem penitência, sede misericordioso para conosco: fazei que a confissão das nossas culpas alcance o vosso perdão” (Oração do dia: Quarta-feira da quarta semana da quaresma).

PRECES DOS FIÉIS

Presidente: Oremos ao Senhor que faz maravilhas, para que, se realize no mundo, aquilo que anunciou pelos profetas, dizendo:

Senhor, tende piedade de nós!

1. Por todos os ministros ordenados de nossa Igreja encontrem em Jesus Cristo o bem supremo e anunciem com grande vigor no mundo de hoje, oremos:

2. Por todos os governantes, para que a sabedoria com que Deus os enriquece sirva sempre para o bem dos cidadãos, oremos:

3. Por todos os fiéis de nossa comunidade paroquial, para que o sacramento da reconciliação lhes traga paz e motivo a mais para se configurarem ao amor de Deus, oremos:

4. Por todos os batizados, que o poder da Ressurreição de Jesus Cristo, nos façam almejar cada vez mais viver com concórdia e unidade, oremos:

Presidente: Senhor, Nosso Deus, que em Jesus Cristo, vosso Filho, nos revelastes as dimensões do perdão, dai-nos a graça de sermos misericordiosos para com o próximo. Por Cristo, Senhor nosso.

Todos: Amém!

III. LITURGIA EUCARÍSTICA

ORAÇÃO SOBRE AS OFERENDAS:

Presidente: Deus todo-poderoso, concedei a vossos filhos e filhas que, formados pelos ensinamentos da fé cristã, sejam purificados por este sacrifício. Por Cristo, nosso Senhor.

Todos: Amém.

ORAÇÃO PÓS-COMUNHÃO:

Presidente: Concedei, ó Deus todo-poderoso, que sejamos sempre contados entre os membros de Cristo, cujo Corpo e Sangue comungamos. Por Cristo, nosso Senhor. Todos: Amém.

V. RITOS FINAIS

BÊNÇÃO E DESPEDIDA:

Presidente: Deus, Pai de misericórdia, conceda a todos vocês como concedeu ao filho pródigo, a alegria do retorno à casa.

Todos: Amém.

Presidente: O Senhor Jesus Cristo, modelo de oração e de vida, os guie nesta caminhada quaresmal a uma verdadeira conversão.

Todos: Amém.

Presidente: O Espírito de sabedoria e fortaleza os sustentem na luta contra o mal para poderem com Cristo celebrar a vitória da Páscoa.

Todos: Amém.

Presidente: (Dá a bênção e despede a assembleia).