No calendário litúrgico da Igreja Católica, o Dia de Finados, oficialmente a recordação dos fiéis defuntos, nos convida a uma atitude interior que vai além do simples recolhimento ou da tristeza automática. É dia de oração, de lembrança grata e de esperança cristã.Muitas vezes associamos esse dia ao pesar, à saudade e à melancolia pelo que se foi. Mas a fé cristã propõe que, precisamente ao recordar aqueles que partiram, somos chamados a reconhecer que a morte não é o último ato, mas uma passagem, e que a oração pelos que dormem no Senhor expressa a comunhão dos santos, a solidariedade entre os que vivem e os que partiram, e a confiança de que nada está perdido.
O Papa Francisco, falecido no dia 21 de abril deste ano de 2025, em suas homilias para o Dia de Finados e em suas reflexões sobre a morte, oferece elementos relevantes para orientar essa atitude. Por exemplo, ao presidir uma missa por ocasião da recordação dos fiéis defuntos, ele afirmou:
“Hoje, ao pensar nos mortos, ao conservar a memória dos mortos e ao conservar a esperança, pedimos ao Senhor a paz… e que o Senhor os receba a todos.” E acrescentou: “Memória, dos que passaram antes de nós, que gastaram a vida… e também dos que não fizeram tanto bem, mas … foram recebidos na memória de Deus.”
Essas palavras ajudam a deslocar o olhar: da morte apenas como fim, para a morte como entrada em comunhão com Aquele que venceu a morte, e como momento de oração, não de resignação passiva.
A lembrança dos que partiram é honrada. O Papa destaca que a data litúrgica traz consigo “duas ideias: memória e esperança”. A memória não é para nos aprisionar no passado, mas para reconhecer uma história de vida, de comunhão, de presença que permanece. Rezar pelos que partiram é um ato de amor e solidariedade. A morte precisa ser compreendida à luz da ressurreição de Jesus, Ele é a força, a serenidade e a vitória sobre o medo.
O Dia de Finados nos convida a olhar para frente, na certeza de que a vida não termina, apenas se transforma. Claro que a saudade existe, o vazio existe. Mas este é o momento de elevar a saudade à gratidão, para que a lembrança se torne oração e para que a morte seja vista no contexto da ressurreição.
Ao lembrar-nos dos mortos, também somos impulsionados a viver bem agora, a amar mais, a fazer da vida uma oferta. O Dia de Finados não precisa, e não deve, ser apenas um dia de tristeza. Ele pode e deve ser um dia saudoso, sim, mas sobretudo orante e esperançoso. Inspirados pelas palavras de Papa Francisco, somos convidados a recordar com amor, a rezar com fé e a olhar com confiança para o que está além do horizonte desta vida.
Que este dia seja para cada um de nós um momento de paz, de oração em memória dos entes queridos falecidos e de reafirmação da vida que vence a morte.
Dom José Roberto Fortes Palau
Bispo Diocesano de Limeira