A mistrura da água e vinho como símbolo mistagógico na Liturgia Eucarística da Celebração Eucarística
Publicado em: 25/05/2023



Diz o Missal Romano: “De pé, no lado do altar, derrama vinho e um pouco d’água no cálice, dizendo em silêncio: Pelo mistério desta água e deste vinho possamos participar da divindade do vosso Filho que se dignou assumir a nossa humanidade” (Instrução Geral sobre o Missal Romano. 142).

Nos tempos de Cristo, e não somente na Palestina, mas também na Grécia e em Roma, não se tomava normalmente o vinho sem misturá-lo com água. Era demasiado forte.

Portanto, é praticamente certo que Jesus, na Última Ceia, como também em suas demais refeições, tenha tomado o vinho misturado com água, embora os relatos não o mencionem, precisamente por sua evidência.

São Justino, em sua Apologia, 65c, do século II, já menciona este gesto: “seguidamente se apresenta ao que preside os irmãos pão e um copo de água e vinho misturado”.

A própria oração já nos dá o sentido deste gesto.

São Cipriano, na sua carta n. 63, em meados do século III dizia: “Na água se entende o povo, e no vinho se manifesta o Sangue de Cristo. E quando no cálice se mistura água com vinho, o povo se junta a Cristo, e o povo dos que creem se une e junta àquele no qual acreditou. União esta e conjunção da água e do vinho de tal modo se mistura no cálice do Senhor que aquela mistura não pode separar-se entre si. Pelo que nada pode separar de Cristo sua Igreja (...) Se alguém só oferece vinho, o Sangue de Cristo começa a estar sem nós, e se água está só, o povo começa a estar sem Cristo. Mas quando um e outro se misturam e se unem entre si, fundindo-se mediante a união, então se completa o sacramento espiritual e celestial”.

Assim como a água e o vinho, misturados, tornam-se um só, nós também, pela graça (a partir da Encarnação, quando Cristo assumiu nossa natureza humana sem deixar a sua natureza divina), unindo-nos a Deus nos tornamos um só com Ele. O gesto simboliza a união entre a natureza humana e a divina, e, do mesmo modo como uma gota d’água, misturada no vinho, nele se dissolve, tornando-se vinho, nós também, plenos da graça seremos como que divinizados (sem, entretanto, deixarmos a nossa natureza humana).

Também podemos pensar naquela passagem do Evangelho em que o guarda atravessou o lado de Cristo e saiu sangue e água (Jo 19,34). Misturar água ao cálice também recorda esse momento da Paixão de Nosso Senhor.

O fato de misturar na preparação das oferendas água com o vinho, antes da consagração eucarística, de uma forma indissolúvel, já se converte em um sinal sagrado, em um simbolismo misterioso de nossa união com Cristo.

Unindo-nos intimamente a Ele para a Eucaristia, para seu sacrifício. Nós mesmos, nossa vida inteira, se transforma assim, unida a Cristo simbolicamente nesse pequeno gesto, em matéria da oferenda eucarística. Vamos nos incorporar à Páscoa sacramental de Cristo, nossa Cabeça e Sacerdote.

Até mais...

Pe. Ocimar Francatto